Na
metade final dos anos 80, o longboard é considerado coisa de velhos barrigudos
que não tem mais braço pra remar. Eis que surge um menino, Joel Tudor, a
mostrar que o longboard é uma arte cool e bela. E faz isso em pleno boom do
surf profissional e ascensão do novo deus americano da época, Tom Curren.
Puerto
Vallarta, México, 1986. Colocado pelo pai em cima de um pranchão, Joel, 10
anos, apaixona-se pela arte de caminhar até o bico e por lá permanecer. O
garoto cresce vendo as manobras explosivas de Tom Curren, Occy, Carroll e
Pottz, mas seu deus é o legend David Nuuhiwa e sua mensagem principal: Stay on
the nose. Fique no bico.
Com
11 anos, o local de La Jolla, norte de San Diego, é descoberto pelo lendário
havaiano Donald Takayama. Com as pranchas e orientação desse mentor, Tudor
abala os campeonatos profissionais de longboard dos EUA. Aos 12 anos, torna-se
o mais jovem vencedor de um campeonato na historia da ASP, em Oceanside. O
ex-campeão mundial de pranchinha é um dos melhores longboarders da época. Nat
Young, fica impressionado com sua classe. Praticamente adota o garoto e lhe
consegue, dois anos depois, o patrocínio da poderosa Oxbow francesa, em 1990.
A
liberdade proporcionada por um ótimo salário e um estilo de vida irresponsável
quase arruínam Joel. O adolescente de 14 anos acredita que pode tudo. Adorador
de armas, se mete num tiroteio com balas de tinta contra seus vizinhos. Um
policial o detém e aponta uma arma para sua cabeça. Para segurar a onda sua
família manda-o para a Austrália aos cuidados de Nat. Longe da neurose
americana ele só se preocupa em surfar e aprender. “passamos muito tempo juntos
para desenvolver e descobrir quem eu era. Nat tem o papel principal em minha
vida, não seria quem eu sou sem ele”, revela Joel no mundial de 2001, em
Saquarema, Rio.
No
inicio dos anos 90, Tudor já é o melhor longboarder do planeta.
O
batismo nas ilhas é aos 12 anos e os locais não aceitam aquele fracote cabeludo
metido a surfar, num longboard. “Os locais me xingam e ameaçam me bater. Então,
lá do fundo surgiu esse cara com uma tatuagem de um zíper no meio da testa e
gritou, “calem a boca!”. Era Jay Adams (mito do skate). Ele veio me salvar”,
lembrou Tudor.
Jay
o protege porque seus antigos patrões na Zephyr (lendária loja/marca que lançou
os jovens surfistas skatistas revolucionários de Dog Town, L.A., nos anos 70),
patrocinavam Tudor como skatista. É, o fedelho também arrasava nas rodinhas e
seria o único surfista da historia a ter um anuncio só seu, descendo uma
ladeira, publicada na Trasher, bíblia do sk8. Jay também o respeitava pelo
resgate do estilo clássico de surfar.
Joel
seria ainda mais respeitado quando mostra andar bem em pranchinhas retro. Ganha
admiração ao entubar com classe em Pipeline e botar pra baixo nas morras de
Todos os Santos (México) e na Indonésia. Essa versatilidade vinha do seu quiver
de mais de 30 pranchas, entre longboarders single fins, stubs, eggs, fishes e
pranchinhas monoquilhas dos anos 60 e 70.
Em
1992, a Oxbow realiza seu primeiro mundial no mais tradicional palco do
longboard europeu, Biarritz, França.Tudor é vice, atrás de Joey Hawkins. E
seguiria sem vencer o mundial nos cinco anos seguintes enquanto seu estilo era
venerado apenas no clássico Festival de Biarritz (pentacampeão, 1994 a 98).
A
consagração só vem em 1998. Finalmente Tudor é campeão mundial, mas Ilhas
Canárias. Depois dessa conquista, ele disputa ainda o mundial algumas vezes
(vence de novo em 2004, em Biarritz), mas seu questionamento do julgamento (que
procura equilibrar manobras clássicas com modernas) vai afastando-o dos
campeonatos.
Business
man. Em 1999, ele cria a Joel Tudor Surfboards após separar-se do amigo e
mentor, Takayama, e depois comanda também as roupas de neoprene Amsterdam.
Joel
sabe aproveitar, como poucos, o que o surf e a vida podem oferecer. Passa um
bom tempo viajando (surf trips) ou em cada uma das três casas que possui uma na
Califórnia (em Del Mar), uma no Hawaii (Maui) e a outra em Nova York. Ele assim
pode surfar em seu pico preferido, Windansea (direita longa e consistente,
esquerda mais curta e mais forte) e ficar perto do mercado do surf (na Califa).
E
o artista faz tudo isso pilotando seus longboards como se caminhasse na areia
da praia. Esse é Joel Tudor, um verdadeiro Merlin, mago feiticeiro das ondas.
Para muitos, o maior longboarder de todos os tempos.
Fonte:
Zé Augusto de Aguiar – Revista Hardcore N° 257 – (www.hardcore.com.br)
Informativo nº 260
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